TEMA: Patrimônio: Paisagem Cultural
"O caminho sobe ainda mais. Da floresta do cimo desce á esquerda, murmurando em seu leito de pedra, por uns cem pés, um riacho constituído de vários braços, que rebenta nas rochas escarpadas. Sobre ele inclinam-se cecrópias e palmeiras e na sua vizinhança os mirtos e begônias formam cerrada mata. O seu murmurinho acompanhou-nos até a crista da serra. Imponente vista! Aos nossos pés, o mar azul, subindo no horizonte, como parece, sempre que do alto contemplamos a sua larga superfície. Mas exatamente abaixo de nós, uma baía azul, isolada, e um grande lago, em torno do qual se estendem próspera plantação, bonitas casas de residência ou íngremes morros cobertos de mato".
(Robert Avé-Lallemant, 1858)
O trecho acima é parte da descrição que o médico e explorador alemão Robert Avé-Lallemant fez da Lagoa da Conceição quando de sua passagem pela Ilha de Santa Catarina. Em 1858, Avé-Lallemant esteve em expedição pela Província de Santa Catarina e em sua estada pela Ilha, visita a Freguesia da Lagoa e seus arredores. A partir de seu relato podemos construir em nosso imaginário como era a Lagoa em outros tempos e perceber como sua paisagem foi sendo transformada ao longo do tempo.
TEMA: Trabalho e memória: A vida em outros tempos
As tiradeiras
" Eu gostava muito de cantar.
Cantava tanto que lá nos cômoros se ouvia.
Nós tirávamos o café cantando.
Só as mulheres.
Os homens às vezes iam no cafeeiro tomar
conta das tiradeiras.
À noite, nós íamos raspar mandioca.
Aí botávamos o gado no engenho,
começávamos a cevar, pra depois prensar.
Só terminava o trabalho quando a mandioca já
estava pronta para fazer beiju.
Eu ia trabalhar na Costa [...]
[...] Na Costa, um dos donos do engenho era o
Joca Silveira.
Mas, aqui perto, tinha o engenho do Afonso,
marido da Clara.
Lá no Canto, tinha o engenho do sogro
do Inacinho...
Onde hoje é o Grupo Escolar, também tinha
um engenho de farinha.
Mas algumas mulheres preferiam ficar
em casa fazendo renda".
Lina Alexandra - Freguesia.
O texto de abertura deste tema é um dos excertos de entrevista do livro Vozes da Lagoa, já citado no tema anterior. A personagem escolhida foi a Lina Alexandra, moradora da Freguesia da Lagoa, nascida no ano de 1916. Nesse relato, as memórias evocadas falam sobre o trabalho das mulheres na época em que se tinham muitos cafeeiros pelos morros, engenhos espalhados por toda a região da Lagoa e o feitio das rendas de bilro era um trabalho rotineiro das mulheres. Na época em que as entrevistas foram realizadas pelas autoras do livro, Lina estava com a idade de 78 anos.
AVÉ-LALLEMANT, R. (1980). Viagens pelas províncias de Santa Catarina, Paraná e São Paulo (1858). (T. Cabral, Trad.) Belo Horizonte - São Paulo: Itatiaia - Universidade de São Paulo .
BORGES, Eliane; SCHAEFER, Bebel O. Vozes da Lagoa. Florianópolis: Fundação Franklin Cascaes; Fundação Banco do Brasil, 1995.