Professor/a, nesta atividade a proposta é investigar aspectos sociais e culturais relativos ao perfil da população, atividades econômicas e vida cotidiana na Lagoa da Conceição. O texto escolhido para abertura do Tema fala de modos de vida e trabalho já distantes no tempo, mas que sem dúvida está presente nas memórias e histórias dos antigos moradores.
Objetivos
A atividade 2 da OFICINA DE FONTES está relacionada as fontes 5, 6, 7 e 8 e tem por objetivos:
Identificar aspectos sobre a população e atividades econômicas mais desenvolvidas em determinadas épocas;
Relacionar como essas atividades moldaram o modo de viver no passado e no presente da Lagoa;
Conhecer aspectos da sociedade a partir de uma perspectiva mais individual dos sujeitos;
Problematizar a narrativa construída acerca da cultura açoriana como única;
Inferir sobre como o processo de transformação da cidade no pós-abolição afetou os moradores afrodescendentes da Lagoa;
Refletir sobre como era a vida na Lagoa em outros tempos, como ela é agora e o que queremos para o futuro.
Possibilidades metodológicas
Primeira etapa:
(Para ler com a turma)
Você já parou para pensar como era a vida na Lagoa há 50, 100 anos ou 500 anos?
A Ilha de Santa Catarina, o Brasil, e toda a América, já era ocupada por milhares de diferentes povos indígenas, quando da chegada dos europeus no no final do século XV.
Numa disputa pelos domínios do sul do Brasil, os portugueses decidiram enviar para algumas regiões de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, imigrantes dos Açores, arquipélago atlântico ocupado oficialmente pelos portugueses desde o século XV.
Entre os anos de 1748 e 1756 desembarcaram em terras brasileiras algumas dezenas de casais açorianos com o objetivo de colonizar terras já há muito tempo ocupadas. É nesse contexto que a Lagoa da Conceição nasce como Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, em 1750. Muito provavelmente, os açorianos recém chegados encontraram na Ilha de Santa Catarina os indígenas Tupis-guaranis, chamados pelos portugueses de Carijó.
Além da Freguesia da Lagoa, os açorianos fundaram mais duas freguesias: Santo Antônio de Lisboa, no norte da Ilha, e a Freguesia do Ribeirão da Ilha, no sul. Inseridas no contexto econômico da época, todas as Freguesias contaram com a mão de obra escravizada africana ou afrodescendente, que para muito além do seu legado para a construção e manutenção da economia, principalmente agrária, esses sujeitos deixaram sua marca na cultura e são parte da história da Ilha de Santa Catarina.
Segunda etapa:
Com seus grupos de trabalho formados, as/os alunas/os são convidadas/os a ler e observar cada uma das fontes procurando entender cada uma delas, conversando e trocando informações com o grupo. As fontes escolhidas e recortadas trazem informações históricas sobre o mundo do trabalho, economia agrícola, população, memória e alguns aspectos da sociedade da Lagoa dos séculos XIX e XX.
A fonte 5 é um recorte do Recenseamento de 1872. O recenseamento de 1872 informa sobre um perfil populacional da Freguesia da Lagoa: quantidade de pessoas que viviam na região, origem étnica, idade, ocupação profissional, escolaridade, entre outras informações relevantes. Para o trabalho com os/as estudantes selecionamos o quadro da população em relação às profissões. Analisar o quadro referentes às profissões nos possibilita pensar quais eram as atividades econômicas mais prósperas da Lagoa, propor hipóteses para refletir sobre como era a vida dessas pessoas em outros tempos e comparar com as atividades econômicas relacionadas com a Lagoa de hoje.
A fonte 6 é um excerto de entrevista de um morador da Lagoa. Nascido em 1905, o personagem Laurindo rememora o tempo da boa produção do café, tido como recurso do povo. Fala do homem lavrador e pescador. A sugestão de trabalhar com essa fonte se dá por dois motivos principais: o primeiro motivo é restaurar as vozes, experiências e memórias da gente simples da terra: lavradores e pescadores tradicionais; o segundo motivo é propor aos/às estudantes pensar numa Lagoa com outras formas de viver, com ritmos muito diferentes dos que encontramos hoje em meio a toda mudança social. A fonte nos possibilita perceber permanências e transformações sociais na Lagoa da Conceição.
A fonte 7 por sua vez, traz excertos da literatura historiográfica de Virgílio Várzea, que no ano de 1900 percorreu a Ilha de Santa Catarina e escreveu um livro sobre suas histórias, costumes, gente, economia, festas, credos etc. Para a investigação com os/as estudantes selecionamos o trecho que fala sobre a Freguesia da Lagoa e sobre os engenhos existentes nessa comunidade. A proposta com essa fonte é aproximar os/as estudantes das relações socioculturais estabelecidas no mundo do trabalho dos engenhos.
A fonte 8 é um recorte de um inventário post-mortem do último quartel do século XIX de um morador da Freguesia da Lagoa. Os inventários são documentos de grande valor para o estudo de história, pois possibilitam a compreensão da sociedade a partir de uma perspectiva mais individual dos sujeitos. De modo geral, os inventários são organizados em três partes. A primeira parte informa sobre os dados do falecido e a relação dos herdeiros filhos, netos, idades e situação matrimonial. Na segunda parte tem-se o arrolamento dos bens, com descrição e avaliação dos móveis, imóveis, semoventes (animais domesticados, escravizados podem aparecer nesta categoria) e dívidas ativas e passivas do falecido. Na terceira parte é feita a partilha de todos os bens entre os herdeiros do inventariado. Para a oficina com os/as estudantes selecionamos e transcrevemos a segunda parte do inventário, ou seja, o arrolamento dos bens deixados pelo falecido. A versão original do documento está disponível para o/a professor/a, caso o/a mesmo/a queira fazer um exercício de leitura paleográfica com os/as estudantes.
Terceira Etapa:
Os grupos receberão as fichas de análise. Cada ficha está orientada por meio de perguntas para cada tipo de fonte.
Ficha de análise - Fonte 5
Ficha de análise - Fonte 6
Ficha de análise - Fonte 7
Ficha de análise - Fonte 8
Quarta etapa: A partir da análise e interpretação das fontes, cada grupo é orientado a pensar a temática a partir de algumas questões previamente elaboradas, que serão desenvolvidas nas atividades propostas.
Na seção Roteiro de estudos desse tema seguem-se as orientações de como os estudantes devem desenvolver as atividades propostas.
Apresentação: os resultados da pesquisa 3 podem ser apresentadas em forma de exposição dos objetos e/ou exposição das fotografias dos mesmos. Seria interessante as duas formas de exposição. As fotografias seriam necessárias para demonstração de alguns objetos maiores como móveis, ou para objetos que tragam algum grau de perigo, como machados e foices, por exemplo.
Todos os objetos e fotografias expostos seriam acompanhadas das devidas legendas descritivas, ou seja, a biografia do objeto: nome, para que serve, provável data de confecção, história dentro da família a que pertence, se ainda é utilizado atualmente etc).
Sugestões de aprofundamento
Artigos
VOGT, Olgário Paulo.; RADÜNZ, Roberto. Do presente ao passado: inventários post-mortem e o ensino de história.
O artigo apresenta a professores de História uma possibilidade de utilização de inventários post-mortem como material didático.
SCHMITZ, Pedro Ignácio. A OCUPAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, no 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina.
O artigo traz um estudo sobre as duas ocupações iniciais no Estado de Santa Catarina: A primeira, com mais de 8.000 anos, de caçadores, nas matas da encosta do planalto ao leste e nas matas do Alto Uruguai a oeste, que se manteve até o fim do primeiro milênio de nossa era. A segunda, um pouco mais recente, de pescadores e coletores junto a estuários, canais, mangues e baías do litoral atlântico, a qual também durou até o final do primeiro milênio de nossa era.
Sites
O Programa Santa Afro Catarina visa valorizar o patrimônio cultural associado à presença dos africanos e afrodescendentes em Santa Catarina. O website reúne narrativas históricas, documentos, atividades para uso em sala de aula e sugestões de percurso pela cidade.
Livros e capítulo de livros
Escravidão nos Engenhos de Farinha da Lagoa da Conceição, de Ana Carla Bastos. In: MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti; VIDAL, Joseane Zimmermann (orgs.). História diversa: africanos e afrodescendentes na ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2013. p.281.
No referido capítulo, a pesquisadora Ana Carla Bastos entrelaça a produção da farinha de mandioca, principal alimento da população da época, com a pequena propriedade escrava na Freguesia da Lagoa. A comercialização da farinha, dentro e fora da Província de Santa Catarina, possibilitou a obtenção da mão de obra escravizada.
Santa Catarina: a ilha, de Virgílio Várzea. Florianópolis: IOESC, 1984.
Virgílio Várzea percorre toda a Ilha de Santa Catarina no ano de 1900 e dessa viagem escreve então este livro, que é uma valiosa literatura historiográfica sobre a Ilha: sua gente, seus costumes, suas atividades econômicas, sua cultura e crença, suas belezas naturais.
Vídeos
A arte de fazer cestaria, suas origens e seu legado.
Os engenhos de farinha e
suas histórias.
A arte de fazer canoa de um tronco só. Tradição indígena aprendida pelos açorianos.
BORGES, Eliane; SCHAEFER, Bebel O. Vozes da Lagoa. Florianópolis: Fundação Franklin Cascaes; Fundação Banco do Brasil, 1995.
FERREIRA, Gilmara de Campos. Morros de lavoura: A vida agrícola na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa (1875-1900). 2010. Monografia (Graduação em História) Universidade Federal de Santa Catarina, 2010.
Inventário Post-Mortem de Luciano José da Costa. 1878. Acervo: Museu do Judiciário Catarinense.
Recenseamento de 1872 está publicado no site do IBGE. Disponível em https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo?id=225477&view=detalhes
VÁRZEA, Virgílio. Santa Catarina, A Ilha. Florianópolis: IOESC, 1984.