A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, hoje distrito da Lagoa da Conceição, foi fundada em 1750 por imigrantes açorianos no contexto da política de povoamento do sul do Brasil.
Em terras catarinenses, os imigrantes açorianos substituíram o plantio do trigo pela mandioca, uma das heranças indígenas apreendidas pelos novos moradores, e adaptaram seus moinhos em engenhos. Do século XIX e início do século XX, a Lagoa foi uma região de intensa produção agrícola, sendo a farinha de mandioca, a produção de aguardente e o café seus principais produtos, que em seus tempos áureos foram destinados a diversas praças comerciais do Brasil e do exterior.
A partir da década de 1960 e 1970 com a instalação da Universidade Federal e de empresas como a Eletrosul, o eixo de trabalho da Ilha começou a passar por diversas transformações, trazendo para Florianópolis um número cada vez mais expressivo de novos ramos de trabalho, ao mesmo tempo que levava moradores do interior da Ilha a deixarem suas antigas formas de sustento para se dedicarem aos serviços públicos e privados no centro e outros bairros, como a Trindade.
A procura por terrenos aumentou nas regiões mais afastadas do centro da cidade, e a Lagoa da Conceição e seu entorno acabaram por se tornar um destes lugares tão buscados pelos moradores recém chegados e pelos turistas. Aos poucos, os terrenos foram vendidos, as roças abandonadas, os engenhos inutilizados e os caminhos de carro de boi viraram estradas.
Com uma natureza exuberante, a Lagoa da Conceição se tornou um dos destinos turísticos mais procurados da Ilha de Santa Catarina. Suas lindas praias, dunas, montanhas, lagunas, atraem e encantam turistas e moradores, mas poucos são aqueles que sabem o passado agrícola da Lagoa.
Um tempo não muito distante, onde os lavradores dividiam sua labuta entre a terra e o mar.
Localização da Lagoa da Conceição - Freguesia da Lagoa - e as demais localidades
que compõem o Distrito da Lagoa, em relação à Ilha de Santa Catarina.
Quando os europeus chegaram à Ilha de Santa Catarina no século XVI encontraram grupos indígenas de tradição Guarani, e logo chamaram-lhes de Carijós. Mas antes dos Carijós, povos de outras tradições viveram nestas terras, como os Itararé, por exemplo. O certo é que pesquisas realizadas desde a década de 1940 demonstram a presença humana na Ilha de Santa Catarina e adjacências há alguns milhares de anos. Esses grupos deixaram vestígios de sua ocupação por diversos lugares. Na região da Lagoa é possível encontrar sambaquis, oficinas líticas, acampamentos, vestígios cerâmicos e inscrições rupestres.
Oficina lítica da Praia da Joaquina, 1996.
Fonte: Casa da memória. 2021.
Do convívio com portugueses e espanhóis, os Carijós legaram muitos dos seus conhecimentos. Esse povo cultivava a mandioca, praticava pesca e caça, fabricava uma série de instrumentos com barro (cerâmica), fibras e taquaras (cestarias), tinha o domínio dos caminhos e trilhas (peabirus), curava por meio das plantas medicinais, dominava a técnica do feitio da canoa de um tronco só. Todo esse conhecimento acumulado foi de grande importância para o estabelecimento dos colonizadores açorianos e madeirenses que chegaram no século XVIII ao litoral catarinense.
Tipiti. Cestaria indígena utilizada no engenho de farinha.
Fonte: Casa da Memória. 2021.
BASTOS, Rossano L.; TEIXEIRA, Adriana. A Arqueologia de Florianópolis. In: Atlas do Município de Florianópolis. IPUF. 2004.
FERREIRA, Gilmara de Campos. Morros de lavoura: A vida agrícola na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa (1875-1900). 2010. Monografia (Graduação em História) Universidade Federal de Santa Catarina, 2010.
LAVINA, R. Indígenas de Santa Catarina: História de Povos Invisíveis. p.76. In: BRANCHER, A.. História de Santa Catarina: estudos contemporâneos. Florianópolis, SC: Letras Contemporâneas, 1999.